DJ e produtor paulistano baseado em Los Angeles, WLL jogou na última semana um novo single na área. Desta vez com a colaboração da cantora e compositora mineira ISSA, “Sweet N’ Sour” é uma canção electro-pop com bastante apelo radiofônico, trazendo uma proposta ligeiramente diferente de tudo o que o artista já nos mostrou até aqui.
Seu primeiro single, “Come on Over”, lançado em 2019 pela Supernova Records, é uma deliciosa viagem disco-houseira, com direito a samples de “Chega Mais”, da Banda Black Rio (um dos expoentes da onda disco/funk/soul brasileira que brilhou nos anos 70 e 80). Em 2020 e em janeiro deste ano, dois remixes para artistas californianos — respectivamente, “Commitment”, de Anna Carmela, e “The Feeling”, de LJ Smooth — renderam seus próximos releases oficiais, agregando sempre o tempero tropical e nu disco às produções originais. Em março, “ACAI” dobrou a aposta na ousadia adicionando batidas de funk carioca à proposta disco house do artista.
Em “Sweet N’ Sour”, que chegou na última sexta-feira (16) pela H Y P E R, essa estética continua presente, porém de maneira mais sutil, já que a faixa foi baseada nos vocais açucarados da mineira, que exalam música pop. “Nada foi pensado de antemão, acho que rolou naturalmente pelas próprias influências de ISSA. Eu formatei toda a track ao redor dos vocais, então se ficou pop ou mais acessível é graças à performance dela”, conta Will Martins, o WLL, a House Mag, destacando que ficou extremamente satisfeito com a parceria.
Também pela H Y P E R, “ACAI” chegou em março
“Além de escrever a letra, ela produziu o vídeo oficial e tem ajudado — e muito! — em toda a campanha de promoção do single. Sempre que convido um artista pra uma collab, eu deixo claro que tudo é 50/50, independentemente do que rolar, e no caso da ISSA, não precisei nem insistir muito. A cada semana ela vinha pra mim com ideias novas para o clipe, arte, som… Foi muito legal trabalhar com uma artista tão dedicada”, revela.
Segundo Will, ele descobriu a cantora no Instagram. “O single ‘Karma’ apareceu no meu feed e eu curti muito o timbre dela e a atitude. Era exatamente o que eu estava buscando pra uma faixa nova. Entrei em contato com ela e, sorte minha, ela topou começar uma collab. Depois de muitos rascunhos de ambas as partes, da letra dela e do meu instrumental, ‘Sweet N’ Sour’ começou a tomar forma”, conta.
Com “Karma”, ISSA chamou a atenção do produtor
Hoje com 28 anos, Martins é músico desde os 13 anos de idade, tocou guitarra em bandas de rock ao longo da adolescência, e passou a se dedicar à produção musical em 2013, época em que também estudava publicidade e marketing. “Um dia fiz uma entrevista para a produtora de som Mugshot, que buscava um produtor temporário. O engraçado é que eu achava que o job era algo relacionado a marketing, e quando cheguei lá, um dos donos me perguntou: ‘Ah, você é produtor, né?’. E eu, quase que sem piscar: ‘Sim, claro!’. O que não era totalmente mentira, pois já produzia as músicas da minha banda da época, mas mal sabia que a vaga era para produzir músicas para comerciais, filmes e séries — o que eu tinha experiência ZERO em fazer”, relembra.
“De um mês, acabei ficando quase três anos lá, e encontrei os melhores mentores e amigos que poderia ter. Aprendi muito sobre produção, mas também sobre music business, synch, trilha sonora, taste… Senti que era a hora de dar o próximo passo, e foi quando decidi vir pra L.A. e investir na minha carreira profissional como compositor e produtor”, segue.
Remix de WLL para “The Feeling”, de LJ Smooth
“Paralelo a tudo o que aprendia em trilha sonora na UCLA [Universidade da Califórnia em Los Angeles], comecei a produzir música eletrônica como uma forma de escape do universo de Film Scoring, até que decidi ver o que rolava se eu lançasse as cinco músicas que estavam prontas no meu HD. Foi assim que o projeto WLL nasceu”, narra. O projeto existe desde 2016, mas foi em 2019 que decidiu apostar tudo nele, transformando-se em sua principal ocupação.
Fã da fase dos “Brazilian Grooves” dos anos 70 e 80, Will admite que fazer um som eletrônico nessa pegada tem mais aceitação nos Estados Unidos do que no próprio Brasil. “Minha impressão é que o público de música eletrônica daqui tem menos preconceito de ter um lineup mais diverso. Não é muito difícil de ver em festas de deep house alguém tocando disco, prog ou trap. Já no Brasil, eu sinto que se um DJ faz isso, é quase pedir para esvaziar a festa”, reflete.
Com samples da Banda Black Rio, “Come on Over” é o primeiro single de WLL
Mesmo assim, ele faz questão de salientar que não se limita a apenas uma proposta musical: “Minha identidade sonora não está definida, e espero que nunca esteja (risos). Nunca quis me limitar. Tudo é influência pra mim. Eu cresci ouvindo jazz, bossa nova, disco, mas também rock, metal, hardcore. Se amanhã eu quiser tocar old school house ou future house, não vou me impedir”.
“Acho que tudo é questão de momento e bom gosto. Claro que os timbres e o modo que eu utilizo os elementos acabam criando uma assinatura sonora, mas acho que produtores deveriam se abrir mais do que se fechar, e principalmente, criar o que eles acham que é legal, e não o que o mercado diz que é”, finaliza.