Do violino para as drum machines: a história de LuizFribs com o techno

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Por em 30 de abril, 2021 - 30/04/2021

Com um rico background musical, goiano começou a brilhar no cenário underground nos últimos dois anos

Além de todo o drama natural que vem afligindo o mundo e especialmente o Brasil nesses últimos meses, a pandemia do novo coronavírus criou uma espécie de vácuo no cenário da música eletrônica. DJs e produtores já conhecidos até têm conseguido se virar com lives e conteúdo nas suas redes sociais, mas muitos nomes que estavam em ascensão acabaram sofrendo muito com a falta dos eventos ao vivo para crescerem organicamente.

LuizFribs é um desses exemplos. Natural de Goiânia, o jovem DJ e produtor de Hard Techno tem uma história longa na música eletrônica — e mais longa ainda na música —, e lançou seu projeto atual quando passou a estabelecer um forte vínculo com o núcleo Nin92wo, de Alex Justino, por onde lançou algumas músicas e teve suas principais gigs. Foi em 2020, porém, que teve seu principal momento, mesmo longe dos palcos.

Com muita persistência, conquistou a atenção de gravadoras que antes apenas ouviam as suas demos, como a italiana Auketone e a espanhola IAMT, e suporte de nomes como Deborah de Luca e Anfisa Letyago. A lacuna criada pela ausência de gigs, entretanto, acaba gerando uma espécie de paradoxo, em que o DJ ganha esse destaque internacional e o respaldo de grandes artistas e selos, mas não consegue expandir sua base de fãs a partir de seu território para o restante do Brasil.

Mesmo assim, Luiz Fernando Ribeiro segue com um olhar positivo sobre seu próprio crescimento. “Meus principais highlights até hoje aconteceram durante a pandemia. Meu lançamento de maior alcance até agora aconteceu em junho, quando ‘Raver Dynasty’ saiu pela compilação ‘Tektones #6’, da label italiana Autektone. A faixa teve suporte duplo da Deborah de Luca e já conta com mais de 35 mil plays no Spotify. Em outubro, recebi suporte da Anfisa Letyago em uma faixa unreleased. Meu lançamento mais recente, o EP ‘Control’, saiu pelo selo espanhol IAMT, do DJ ucraniano Spartaque, e a faixa ‘Move It’ vem performando bem nas plataformas”, diz, destacando o apoio de nomes como Ramiro Lopez, Anastasia Gromova, Sara Krin e Xenia em seu último release.

“Control” saiu no dia 05 de fevereiro, via IAMT

O período afastado das pistas também foi frutífero para desenvolver um novo formato para suas lives, que ele batizou de “2.4.1”, e mal pode esperar para poder colocar em prática. “Estou sempre evoluindo a maneira como me apresento. Chamo a versão atual de 2.4.1, que é composta por uma controladora MIDI (Akai APC 40 mkII), um teclado MIDI (Arturia KeyLab 25), meu violino elétrico (Yamaha SV-255), um iPad, uma drum machine (Roland TR-8S) e o Roland TB-03. Os quatro primeiros me acompanham desde a versão 1.0.0, e os dois últimos foram adicionados a partir da versão 2.0.0”, narra. 

O violino é um capítulo à parte. Bisneto de um violinista da Orquestra Sinfônica de São João Del-Rei, em Minas Gerais, Luiz começou a estudar e praticar com o instrumento desde os quatro anos de idade, chegando a integrar a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás na década passada. Na mesma época, seus dotes o levaram à música eletrônica por um caminho peculiar. Aos 14 anos, foi convidado por um colega do 1º ano do Ensino Médio, que estava começando a se aventurar como DJ, para tocar violino junto na formatura do 3º ano. A brincadeira deu tão certo que evoluiu para um projeto chamado Violink, que durou sete anos.

Três DJs chegaram a compor dupla com LuizFribs no projeto Violink; o último deles, Álvaro Carvalho

“Começamos a tocar em alguns afters, depois evoluímos para festas um pouco melhores, até chegarmos a alguns clubs legais do Estado. Toda essa vivência me fez abrir a cabeça para as diferenças existentes na música eletrônica: o projeto era totalmente comercial, tocávamos EDM e similares, mas desde quando passei a entender melhor sobre os estilos, meu gosto ia ao encontro dos sons mais alternativos”, explica.

“Como evolução natural, acabei me interessando pela produção musical, e nesse caminho, meus primeiros passos já foram em direção ao deep house e, posteriormente, ao techno. Nessa época eu tinha acabado de entrar na faculdade, e um dos meus amigos do curso me apresentou ao Alex Justino. Foi a partir desse networking que meu som começou a tomar os moldes mais atuais, e comecei a frequentar mais ativamente a cena alternativa de Goiânia”, resume.

Via Autektone, “Raver Dynasty” é a faixa de maior sucesso de LuizFribs

O caminho natural de integração à cena underground de sua cidade o levou a fazer muitas amizades e ir evoluindo sua linha sonora — do deep house ao techno melódico ao techno peak time, até se encontrar totalmente em um hard techno de BPMs elevados, linhas ácidas e elementos de seu background musical, que vão de bandas de synthpop dos anos 70 e 80 ao trance dos anos 90 e 2000. 

“Gosto de inserir alguns elementos que vêm dessa estética no meu som: às vezes um bassline arpejado, às vezes utilizo algum preset de synths que remeta à época, outras vezes algum vocal… Já do trance, os leads carregados, cheios de detune e tocando melodias contagiantes, definitivamente me afloram os ânimos, mesmo nunca tendo vivenciado as festas e raves dessa época”, acrescenta Ribeiro, cujo pai, que vivia ouvindo discos de Kraftwerk, Depeche Mode, New Order, Petshop Boys, Giorgio Moroder e Donna Summer, e chegou a ser DJ de disco music nos anos 70 e 80, de modo bem informal, ajudou a formar seu caráter musical. 

“Circuit” chegou em abril de 2020, pela Nin92wo

“No final dos anos 70, início dos anos 80, meu pai tinha uma turma de amigos que gostava muito de som, então acabaram montando uma equipe que fazia sonorização em festas aqui em Goiânia e em outras cidades do Estado. Como a grana era curta, cada um tinha um equipamento, e meu pai, que sempre foi amante de tecnologia e eletrônica, chegou até a montar um mixer próprio. Pensa, se isso fosse na Alemanha, eu poderia ter sido filho de um Kraftwerk (risos)!”, brinca.

O fim do Violink não afastou de Luiz Fernando seu primeiro instrumento, que seguiu como grande diferencial em seu projeto solo. Porém, quando migrou para o hard techno, encontrou dificuldade para usá-lo nas produções. “Quando comecei o live act, ainda no techno mais melódico, eu tinha influências de outros artistas que adicionam instrumentos orgânicos à performance, como o L_cio com sua flauta, então era mais fácil ter um norte. Ao ir evoluindo para um techno mais pesado, reto e com menos espaço para elementos orgânicos, acabei involuntariamente deixando de lado o violino nas produções. Meu live nunca deixou de tê-lo, sempre estou o inserindo nas faixas que crio ao vivo de forma improvisada, mas meu último lançamento em que o violino estava presente de forma predominante foi ainda em 2018”, reflete LuizFribs — entretanto, sem abandonar a ideia de encaixar o artefato no techno pesado.

“No hard techno, eu realmente não conheço outros artistas que insiram instrumentos orgânicos de forma constante nas músicas e performances, mas estou sempre no estúdio testando novas possibilidades para inovar com o violino, como loop, distorção, modulação de frequência, entre outros efeitos. Já é possível perceber essa evolução no meu live act, e acredito que logo menos conseguirei produzir em estúdio novos materiais com o instrumento, que reflitam meu som atual”, complementa.

Para os próximos dias, o produtor tem mais um experimento interessante na manga: vai transformar seu próximo lançamento em objeto de estudo para seu TCC na faculdade de Administração. “Conversando com meu orientador, chegamos à ideia de eu fazer um lançamento por conta própria e utilizar as estratégias de divulgação e resultados como objeto de estudo do meu trabalho. Será o EP ‘Perception’, que vai rolar no dia 14 de maio. Ele contará com três faixas e estará disponível em todas as plataformas de streaming, além do Bandcamp. A coleta dos resultados vai acontecer após o período de 30 dias, e a partir daí, darei continuidade à interpretação dos resultados e colocarei tudo no papel”, conclui o inventivo artista.

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