PAPO GROOVE | SÔNIA ABREU A PRIMEIRA DJ DO BRASIL

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Por em 24 de janeiro, 2019 - 24/01/2019

 

Sônia Maria Saraiva Santos Abreu, conhecida como Sônia Abreu é inspiração seja você, mulher, DJ de rádio, DJ de eventos sociais, DJ do underground ou mainstream. A mais ou menos nove meses tivemos a ideia de bater um papo com ela, e a cada palavra ela nos inspirou mais, principalmente para mim que sou mulher e trabalho com a música eletrônica. Infelizmente desencontros de pauta, nos fez demorar exatamente nove meses para soltar esse tesouro de entrevista, mas não poderia ser em uma hora mais propícia do que um início de ano. Sônia foi a primeira DJ mulher do Brasil, questionada sobre o assunto ela diz:

 

“Eu nunca pensei nisso, só vim a pensar quando a Claudia Assef me procurou para escrever minha biografia. Ela me contou que eu era a primeira DJ Mulher do Brasil e agora a primeira do mundo.  Na verdade, desde os 4 anos descobri que a música me fazia viajar, quando meu pai ouvia os discos dele, ele ouvia de tudo: Nelson Gonçalves, Chopin, Moreira da Silva, Cuore Ingrato, entre outros e eu ficava delirando no balanço, daí naveguei nessa e a música me fez uma navegadora das Ondas Tropicais. Minha família era muito musical, aos 13 anos resolvi cair na vida e sonhar com os olhos abertos, porque dormindo você pode ter um pesadelo e cair da cama. rsrsrsr Eu sempre fui muito focada e muito determinada”.

 

 

Sônia é filha única de um médico renomado de São Paulo e sua mãe era dona de casa. Nesse ambiente, nossa curiosidade foi saber como foi aceita sua profissão pela família.

 

“Foi uma tragédia! Meu pai queria que eu fosse médica, eu tenho pavor de medico até hoje. Mas como era muito determinada e quando aos 4 anos delirei no balanço ouvindo as músicas do meu pai, eu já sabia que meu caminho era a música”.

 

Hoje infelizmente muitas mulheres que querem iniciar como DJ e em carreiras “masculinas” no geral ainda sofrem muito preconceito, fazem tudo sem muito apoio, como era naquela época atrás das cabines?

 

“Ah! Tinha sempre os dois lados, uma porque era uma menina no meio dos bolinhas, era interessante para os dois lados. Mas havia também muito preconceito. Os Bolinhas sempre se achavam os melhores! Mas meu objetivo era tão forte, eu tinha tanta certeza do que eu queria que nada me imobilizava. Na vida as pessoas precisam fazer de fato o que amam! Isso sim traz Felicidade”.

 

Ela começou profissionalmente aos 16 anos, mas já ensaiava o que seria desde cedo. Sônia começou a trabalhar com rádio em meados da década de 1960. Trabalhou na Excelsior como produtora musical, de 1968 a 1978, quando lançou a coletânea “A Máquina do Som”, que vendeu milhares de unidades. Também nesse mesmo tempo, trabalhou na SOM LIVRE, e produziu as coletâneas “Papagaio Disco club” e outras mais.

 

“Eu comecei a tocar em festinhas de amigos com 13 anos.  Daí aos 16 anos já trabalhava profissionalmente como DJ na primeira loja de Som e Festas do Brasil: a Áudio – A Lógica do Som. A primeira festa que fiz lá na Áudio foi na casa do Antônio Ermírio de Moraes”.

 

“Eu adorava fazer a programação da rádio Excelsior, amava!  Aliás amo até hoje fazer o que faço. Lancei programas como “Beatles Again”, apresentado pelo Big Boy (carioca, radialista, apresentador de TV e DJ, enfim ele era o Cara no Rio de Janeiro) Excelsior Disco Club, Flash Back, enfim vários programas. No meio do caminho a Som Livre nasce no RIO, pela Rede Globo, as novelas lançando as músicas, e como a Excelsior era da Globo também, eles resolveram fazer uma filial da gravadora em São Paulo, e eu fui no início a diretora musical da Som Livre em Sampa”.

 

A DJ também foi referência nos anos 70, tocando na famosa Papagaio Disco Club, uma das primeiras discotecas do Brasil, do empresário Ricardo Amaral. Nos anos 80, Sônia criou a primeira rádio móvel do país, intitulada “ Ondas Tropicais”, com um sofisticado sistema de som. O primeiro point foi a rua Augusta, e depois a praça do Pôr–do-Sol, o parque Ibirapuera, o bosque do Morumbi, quando uma multidão se agrupava ao redor da kombi para ouvir grandes sucessos e os lançamentos da música eletrônica. E foi em um desses lançamentos que Sônia recebeu um globo de ouro pela música “Automatic Lover”, de D.D.Jackson, a primeira música eletrônica do Brasil. Abaixo ela nos conta o que foi esse projeto para ela:

 

“Cada projeto um sonho realizado!  Não foi fácil não…. Mas rolou. Um dia estava passeando de carro pelo Morumbi e vi um disco voador no Céu em plena luz do dia. Eu estava meio recolhida naquele momento, pois havia pedido demissão na rede Globo porque não aguentava mais seguir listão de músicas, então andava pensando muito no que inventar com a música e naquele dia o Disco Voador me contou tudo o que eu tinha que fazer: A rádio Ambulante, e eu fiz e foi um sucesso total”.

 

 

Esse inusitado projeto chegou a ser realizado a bordo de um Barco de 60 pés, ancorado nas mais agitadas praias do litoral paulista e carioca no verão de 86.

 

Já nos anos 1990, popularizou a world music no país, com o programa “Ondas Tropicais – A Música do Quarto Mundo” e, como se não bastasse, fundou sua própria banda do gênero. A Banda Do Quarto Mundo contava com 22 integrantes, mas claro que a principal era Sonia, a vocalista. O grupo fez sucesso e chegou a dividir palco com Jimmy Cliff.

 

“Como eu gosto de músicas do mundo todo pensei: porque não fazer uma banda que tocasse tudo do mundo todo? Eu já tinha o programa de rádio e com a banda eu poderia ampliar muito mais a divulgação da World Music no Brasil. Foi uma experiência que deu muito trabalho, mas vou te falar foi a emoção mais forte que já senti, mais do que tocar como DJ. Foi maravilhoso! ”

 

Ao terminar entrevista Sônia Abreu me disse algo muito interessante, que me fez questionar muito sobre o preconceito de estilos principalmente dentro da música eletrônica. E nos presenteou com uma frase sobre a vida e a profissão.

 

“Hoje é muito mais fácil ser DJ a tecnologia hoje não tem erro. O que eu acho é que a maioria dos DJs só sabem tocar um estilo: Deep House ou House. Não gosta de nada, eu toco até sertanejo, forró, funk carioca, pagode, se precisar. Faço muitas Festas, e cada festa um gosto musical. Falta cultura musical, estudo, e o preconceito musical acho um desperdício”.

 

 

“Eu acho que cada um deve escolher aquilo que mais gosta na vida. Quando se faz o que gosta, nunca fica chato, nunca é cansativo. Pessoa que faz o que gosta é mais feliz e fica menos doente.  Eu sou muito grata por tudo que fiz nessa vida. Viva!”

 

 

 

 

 

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